Ex-Militares da Guerrilha do Araguaia estiveram reunidos em Marabá

Ex-militares que combateram guerrilheiros no Araguaia no período de 1972/1974, agora lutam na Justiça por reintegração ao Exército e direito a uma aposentadoria, quase 36 anos após terem deixado a região e as Forças Armadas. Além do benefício, eles também querem uma indenização por danos morais, por considerar que foram tão vítimas quanto os guerrilheiros nos combates.
A reunião aconteceu nos dia 26 e 27 passado, em Marabá no auditório do Hotel Vale do Tocantins, onde contou com a presença de representantes do Ministro de Estado da Defesa, Sr. Paulo Fontelles Filho, OAB de Brasília, deputados federais e Sr. Aldo Silva Arantes.
A guerrilha do Araguaia foi um dos episódios mais sombrios da história brasileira. Militantes do PC do B foram ao Norte do país para formar um grupo armado que combatesse o regime militar.
Sobre este episódio até hoje, corpos dos guerrilheiros mortos continuam desaparecidos. Calcula-se que foram à mata cerca de cem guerrilheiros, que enfrentaram algumas centenas de militares.
Agora os ex-militares alegam que não eram oficiais, apenas recrutas do serviço obrigatório, e que não estavam no Araguaia porque queriam.
"Logo que chegamos lá, fomos avisados de que ou matávamos ou morríamos. Não tivemos escolha", diz o presidente da Associação dos Ex-Combatentes do Araguaia, Raimundo Antonio Melo. "Fomos vítimas, até mais do que os guerrilheiros, porque fomos enganados", afirma.
No encontro em Marabá cerca de 80 ex-militares que moram em outros Estados da Federação, entraram com uma ação, na Justiça do Distrito Federal. Ex-combatentes de outros Estados (Pará, Goiás e Espírito Santo) também se mobilizam pelos mesmos benefícios pela via judicial.
No decorrer da reunião a grande maioria dos ex-militares presente, contaram histórias semelhantes nos seus depoimentos, quando afirmaram que prestaram serviço militar obrigatório e, já perto do tempo de sair foram surpreendidos para fazer mais uma manobra normal, entretanto, no meio da viagem até Xambioá (TO), foram informados que se tratava de um combate real. "Só soube quando entregaram munição real para a gente. Se fosse só uma manobra, aquilo não era necessário", diz Raimundo, ex-militar.
Neste episódio a diferença, porém, é que tanto os moradores como os guerrilheiros estão pleiteando as reparações no Ministério da Justiça, que tem uma comissão especificamente para estudar isso. No caso dos militares, o papel desempenhado por eles não se enquadra entre os contemplados pela lei 10.559, a chamada Lei da Anistia.
O guerrilheiro Micheas Gomes de Almeida, ou Zezinho do Araguaia, como ficou conhecido, é um dos poucos sobreviventes da Guerrilha do Araguaia, ocorrida no Norte do País, na região da Bacia dos Rios Araguaia e Tocantins.
No encontro em Marabá, Zezinho do Araguaia, falou sobre a sua militância de 37 anos no PCdoB, focando as perseguições dos militares aqui no Brasil pelo seu ato de protestar contra o regime militar. Contou que sem condições de manter os protestos nas ruas corriam o risco de ser morto ou preso, então o grupo se dividiu para luta armada na cidade e o grupo do qual Zezinho fazia parte não concordava.
O militante é um dos poucos sobreviventes da guerrilha, o que ele justifica por viver na clandestinidade, depois de ter se refugiado na China devido perseguições militares. “Desde 1970 eles andavam no meu rastro, daí tive que usar mais de 80 nomes para apagar esse rastro”, revelou Zezinho.
Zezinho do Araguaia veio para o campo e lutou por três anos seguidos, de 1972 a 1975, devido o ataque que sofreram em 72, quando desencadeou toda a Guerrilha.
Ex-militares revelaram que próximo ao rio Araguaia, em uma área de mata fechada, que ficaram em grupos separados, de 13 a 15 homens cada um, interconectados por um sistema de rádio, de onde vinham as ordens.
O ex-militar Nisan Anaissi Sarmento, incorporado no 2º BIS na 1ª Cia de Selva, relatou que a sua atuação aconteceu na região de Marabá até Palestina do Pará, onde por duas vezes teve que abrir fogo contra os guerrilheiros. “Nossa manobra de treinamento não foi o suficiente, mas teve que manter o meu papel pelo tempo que fiquei destacado para a missão”, afirma.
Após ouvir vários relatos dos ex-militares, o representante do Ministério da Defesa, Paulo Fontelles Filho, deu toda a garantia dizendo que nada podia ficar obscuro quanto a participação de cada militar na época, todos tem a plena liberdade para falar sobre os fatos marcados de torturas tanto para os militares como para os guerrilheiros.
Apesar dos relatos de que havia ordens para matar, os ex-combatentes entrevistados negam ter feito isso ou torturado qualquer guerrilheiro. Eles dizem que a violência era produzida pelos oficiais de carreira do Exército.
"Vi muitos que ficavam sem as unhas, sem parte da orelha, fracos de tanto perder sangue nos interrogatórios", disse um ex-militar. "Quando um era morto, o corpo era pendurado no helicóptero num saco de estopa e exibido na cidade, para fazer medo. Depois, enterrado numa cova rasa ou jogado no rio. Com certeza, a maioria dos que ainda buscam corpos de parentes não vai encontrar nada", relataram.

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